sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

História da Produção Artesanal


Artesanato: conheça mais sobre a história da produção artesanal


Saiba como o artesanato conta a história de um povo e como a tradição se modifica com o tempo


Desde sempre, nós, humanos, procuramos dar forma a matérias-primas disponíveis de acordo com nossas necessidades. Ao longo da história, transformamos argila, pedra e madeira, por exemplo, em objetos que nos fossem úteis. Nada mais sensato, pois ao fazer isso, como escreveu Fayga Ostrower em seu livro Criatividade e Processos de Criação, estamos a caminho da humanização, que é a necessidade nata que temos de dar sentido às coisas.
Assim, do barro, alguém fez uma tigela. E ensinou o amigo ao lado a fazê-la também. De um pedaço de madeira, surgiu uma canoa ou uma jangada, pois era preciso navegar, buscar o peixe para alimentar a família todos os dias. Sempre tendo como matéria-prima o recurso mais à mão em cada localidade. No início, era essa a serventia do artesanato: ser útil. Porque, como escreveu o escritor mexicano Octavio Paz (1914-1998),o artesanato pertence a um mundo anterior à distinção entre o útil e o belo. Ou,em outras palavras, tudo aquilo que fosse útil inevitavelmente seria belo. E vice-versa.


E tudo que reconhecemos como belo, explica Ostrower, é porque detém algo que nos toca. Algo que sempre tem a ver com nossa cultura,com nosso meio, com nosso modo de sentir as coisas.Por isso mesmo ,muitas vezes o artesanato é fonte preciosa de informação para se decifrarem antigas culturas que desapareceram do planeta. Porque, no modo de fazer e nos traços que ornam uma peça, é possível encontrar pistas essenciais para decifrar os modos de vida de uma comunidade. Qualquer um de nós que bata o olho em um cocar de penas certamente será transportado para alguma aldeia indígena da Amazônia.


Cerâmica Marajoara

Peças artesanais podem ser objetos muito importantes, portanto. A cerâmica marajoara é um exemplo. Os marajoaras teriam desaparecido de nossas terras mais ou menos há 700 anos. "Talvez por mudanças climáticas ou disputas com outros povos", afirma a arqueóloga Denise Pahl Schaan, do Museu Emílio Goeldi, em Belém. A cerâmica produzida por esse grupo indígena é o principal meio para decifrar quem foram e como viveram. "Trata-se de um dos poucos registros de uma cultura que,em sua precocidade e complexidade, caracterizou uma das mais importantes sociedades pré-colombianas das Américas", diz Denise.

Ela explica que vasilhas de cerâmica, pratos e tigelas marajoaras eram usados para servir comida em festas e rituais. "Era preciso agradecer aos espíritos pelas boas colheitas", diz. Nos grafismos que ornam esses objetos é possível identificar traços que representam crenças e mitos daquela cultura. A cobra é um deles. E, observando a freqüência com que o tema aparece em urnas funerárias, foi possível supor que os marajoaras acreditavam que seus antepassados chegaram às terras amazônicas navegando pelo rio numa cobracanoa, a jararaca, espécie da região.


A tradição

Além de beleza e utilidade, há outro item inerente ao artesanato. Ele não é como uma peça de museu que parou no passado. "Ele se transforma com o tempo", diz o designer Lars Diederichsen, fundador do Instituto Meio, ONG que trabalha com comunidades produtoras de artesanato. A sociedade muda, e seus valores e necessidades também.

Lá atrás, quando alguém começou a fazer uma panela de barro para cozinhar, trocou com aquele da comunidade mais próxima que sabia fazer uma esteira de palha. E, uma vez que o artesanato traz significados do lugar onde é feito, nada mais natural que ele tenha se tornado, como aconteceu em meados dos anos 1970, um souvenir as famosas garrafinhas preenchidas de areia colorida das dunas do Ceará já nasceram com essa finalidade turística.


A renda de bilro é outro bom exemplo. Veio de longe, de Portugal, e chegou até nós pelas mãos de freiras de antigos conventos. Hoje, essa tão complexa quanto delicada maneira de se produzir um pedaço de pano é uma das marcas de pequenas comunidades escondidas no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas e Santa Catarina, que a exemplo da Associação de Rendeiras do Morro da Mariana, nas redondezas da cidade de Parnaíba, no Piauí conseguem fazer a produção chegar a pontos de vendas no resto do Brasil e no exterior. Tudo isso mantendo características que, embora vindas por mãos portuguesas, adquiriram traços bem brasileiros.

A identidade

Hoje, o desafio que comunidades produtoras de artesanato têm é o de saber comercializar sua produção sem ferir aquilo que têm de mais precioso: sua identidade. Adequar a produção de artesanato ao mercado vem ao encontro de uma demanda que, embora ainda pequena, só tende a crescer.

Cada vez mais, no Brasil, estamos procurando artesanato, seja para usar na cozinha, seja para ornar a casa, seja para presentear. Por isso, o que parecia improvável há dez anos hoje tende a ser uma moda que talvez dure. Tem sido freqüente shopping centers contarem com lojas de artesanato preocupadas em não oferecer souvenir, mas o verdadeiro objeto que representa determinado lugar.


Para atender a esse mercado globalizado, o artesanato passou a ser uma importante fonte de renda em muitas comunidades, movimentando a economia e oferecendo uma opção para aqueles que não querem engrossar as estatísticas sobre o êxodo rural no Brasil.

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